PT

Construindo sociedades mais resilientes e justas por meio da equidade racial e de gênero na educação

Por que Investimos: Fundo Malala no Brasil
Nathalie Zogbi
Principal (Representative)
Allan Greicon
Consultor de Investimentos

Quase 15 anos após a educação ter se tornado um direito constitucional garantido a todas as crianças e jovens no Brasil (EC nº 59), o acesso e a permanência na escola bem como os resultados de aprendizagem continuam inaceitavelmente desiguais.

Os alunos negros representam mais de 70% dos jovens que não estão matriculados na escola. Enquanto 3,6% dos estudantes brancos acima de 15 anos são analfabetos, a taxa é mais que o dobro (8,9%) para estudantes pretos e pardos. O acesso e a conclusão de estudantes negros ao Ensino Médio ainda apresentam atraso de uma década quando comparados às taxas para estudantes brancos. Entre as meninas fora da escola, a maioria é negra, indígena e quilombola – populações que experimentam as maiores lacunas no acesso à educação e barreiras sistêmicas para sair da pobreza. A pandemia global ampliou a crise, fechando escolas por 40 semanas apenas em 2020 e forçando muitas meninas a abandonar a escola para cuidar de suas famílias.

Fundo Malala: Uma Organização que Defende o Direito à Educação de Todas as Meninas

Uma organização que tem trabalhado para transformar este contexto é o Fundo Malala, uma organização global sem fins lucrativos que defende o direito de todas as meninas a 12 anos de educação gratuita, segura e de qualidade. Desde 2018, o Fundo Malala tem apoiado o trabalho de ativistas locais e organizações no Brasil que trabalham para derrubar as barreiras que impedem meninas a acessarem seu direito à educação. O Fundo Malala também apoia parceiros no Afeganistão, Bangladesh, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão e Tanzânia.

"Um dos obstáculos que meninas enfrentam, para além do racismo, é a forma como temos sido silenciadas. Com este projeto, pudemos voltar a ter voz. Eu sou negra, quilombola e uma futura advogada", compartilhou Ana Luiza do Nascimento Roque, de 18 anos, com Malala em sua recente visita ao Brasil.

resized-malala-fund-blog-main

Foto cortesia de Yasmin Velloso para o Fundo Malala

Rede Global, Foco Local: As Comunidades no Centro

Uma das iniciativas programáticas principais do Fundo Malala é a Education Champion Network (Rede de Ativistas pela Educação), que investe em ativistas e educadores locais que trabalham pela educação de meninas em suas comunidades e países. O trabalho desses grupos ajuda a desafiar as políticas e práticas que estão enraizadas no racismo e na masculinidade hegemônica, e que mantêm as meninas periféricas, negras, indígenas e quilombolas fora da escola. Esta abordagem local é inspirada no percurso pessoal de Malala, que se iniciou ao denunciar em sua própria comunidade a proibição do Talibã para a educação de meninas.

Jovens e ativistas no Brasil e em todo o mundo estão liderando a luta pela educação e por igualdade. O Fundo Malala amplifica e investe no trabalho delas. Sabemos que suas experiências e soluções são fundamentais para desmantelar as barreiras sistêmicas que mantêm as meninas fora da escola. Desde a realização de pesquisas sobre preconceitos de gênero até a formação de meninas ativistas e a incidência em políticas educacionais, o trabalho apoiado pela Imaginable Futures está impulsionando o progresso para um futuro mais igualitário.
Lena Alfi, CEO em exercício do Fundo Malala
Suelaine Carneiro, Geledés – Instituto da Mulher Negra

Meninas empoderando meninas - Conheça: Aparecida Suelaine Carneiro, do Geledés

Suelaine Carneiro é uma das 11 Ativistas pela Educação do Brasil. Suelaine cresceu em São Paulo, onde vivenciou em primeira mão a discriminação no sistema educacional. Hoje, como ativista feminista negra e coordenadora do Programa de Educação e Pesquisa do Geledés Instituto da Mulher Negra, ela tem como propósito a expansão do acesso à educação para meninas negras.

A pandemia evidenciou para as meninas negras ainda muito jovens o que elas costumavam descobrir no Ensino Médio: que já estavam para trás, que não havia ninguém no sistema educacional comprometido com elas. As meninas negras ocupam os piores indicadores: não têm conectividade, não têm equipamentos e nem expectativas. Precisamos de um compromisso real da sociedade e da filantropia, incluindo o orçamento necessário, para a educação dessas meninas.
Suelaine Carneiro, Coordenadorado Geledés – Instituto da Mulher Negra

O Fundo Malala investe no programa de apoio entre pares que Suelaine dirige. O programa dá às meninas negras as ferramentas necessárias para voltarem e permanecerem na escola, ao mesmo tempo que encoraja seus pares a fazerem o mesmo. Além disso, o Fundo Malala apoia os esforços para monitorar as políticas educacionais que têm impacto na educação de estudantes negros e para desenvolver políticas públicas que promovam a igualdade racial na educação.

Um modelo de apoio que vai além do financeiro

A particularidade do Fundo Malala é o fato de ser mais do que uma instituição doadora. No âmbito do seu modelo, o fundo concede apoio financeiro às organizações representadas por suas ativistas, como o Geledés de Suelaine, e associa este financiamento à criação de capacidades e de redes. Isto inclui apoio para desenvolvimento institucional, oportunidades de presença na mídia e eventos estratégicos, além de conexões a redes nacionais, regionais e globais. Suelaine compartilhou conosco que a capacidade do Fundo Malala em conectá-la à uma ampla rede de parceiros tem sido relevante: isso tem proporcionado à sua organização uma maior projeção e visibilidade internacional, além de ajudá-la a adquirir conhecimentos valiosos sobre a forma como o ativismo é feito em outros países.

O Geledés, onde Suelaine trabalha, também é apoiado pela Imaginable Futures; Leia sobre nossa parceria e por que acreditamos no papel fundamental que organização ocupa na luta antirracista no Brasil.

Por que investimos no Fundo Malala

malala-primary-logo-large-16b0f7b3e2119ebd7224d0e308a07dfe87e8e0b7c4018d2bedf8a166a99bd000

O Fundo Malala está posicionado de forma única para promover impacto no Brasil de várias maneiras: é uma das poucas organizações no ecossistema que trabalha na intersecção entre igualdade racial, igualdade de gênero e educação. Estamos entusiasmados em aprender com seu modelo operacional e com o impacto que ele pode ter. Além disso, admiramos a abordagem descentralizada e emergente da organização – embora o nome e a reputação de Malala possam ajudar a dar visibilidade ao trabalho dos seus beneficiários e parceiros comunitários, as decisões são lideradas por ativistas brasileiras locais, que estão próximas das suas questões raciais e de gênero. Além disso, a sua abordagem altamente participativa coloca as vozes das meninas no centro do debate. Meninas periféricas, negras, indígenas e quilombolas ocupam um lugar de protagonismo nas ações do Fundo Malala, incluindo em discussões estratégicas e no trabalho de advocacy.

Para além da Rede de Ativistas pela Educação e dos esforços de incidência política e melhoria de políticas públicas da organização, o Fundo Malala também gere o Girl Programme, centrado em amplificar as vozes das meninas e em dar-lhes as ferramentas e os recursos de que necessitam para defenderem a sua própria educação e iniciarem o seu próprio movimento.

Como a Filantropia Pode Acelerar o Progresso Das Meninas

Malala Fund Event

A dura realidade da educação das meninas negras, indígenas e quilombolas no Brasil – agravada pela pandemia global nos últimos anos – faz com que apoiar o seu acesso à educação seja tanto uma questão racial como de gênero. No contexto de altas perdas de aprendizagem, a questão é ainda mais urgente – uma questão em que a filantropia está posicionada de forma única para ter um impacto relevante.

Para aumentar a visibilidade do trabalho do Fundo Malala, no final de maio, organizamos um evento durante a visita de Malala Yousafzai ao Brasil para ouvir a própria Malala ao lado de Suelaine Carneiro, Benilda Brito e Andreia Martins – três Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil. O evento reuniu instituições doadoras e fundos de direitos humanos para discutir como a filantropia pode promover uma maior equidade étnico-racial e de gênero na educação. Foi um encontro profundamente inspirador e significativo, onde as ativistas compartilharam histórias de sucesso e desafios que enfrentam diariamente. Elas também enfatizaram o papel crucial da filantropia no apoio às organizações locais para combater as desigualdades sistêmicas, apelando a compromissos claros e parcerias de longo prazo para impulsionar uma mudança duradoura na educação brasileira.

Estamos esperançosos ao ver o Fundo Malala expandir e consolidar seu trabalho no Brasil, apoiando o ativismo local e iniciativas importantes de incidência política. Ao unir forças, podemos trabalhar em direção à nossa visão compartilhada de um futuro mais brilhante para todas as meninas no Brasil.

Vamos juntos criar um futuro em que todas as meninas possam ser quem elas sonham?