PT

De acordo com o professor Antônio Bispo dos Santos, também conhecido como Nego Bispo, a verdadeira sabedoria é compreender que não renunciamos a nossos próprios conhecimentos quando aprendemos com os outros. Pelo contrário, ampliamos nossa própria sabedoria com os espaços de diálogo.

Bispo chama isso de sabedoria orgânica: a capacidade das comunidades negras e indígenas estarem em confluência com múltiplas identidades, culturas e cosmologias, tal como a natureza é, em oposição à predominante sabedoria sintética, que reduz as coisas a uma única verdade.

Nosso trabalho no Brasil passou por uma mudança substancial nos últimos dois anos, principalmente porque, como argumenta Bispo, tivemos a felicidade de dialogar com lideranças indígenas e negras que lutam pela promoção da equidade racial no sistema educacional.

O Que Aprendemos

Nos últimos dois anos, compreendemos a necessidade de construir nossa estratégia de investimentos a partir de uma abordagem emergente, sistêmica, informada e co-construída pelas pessoas que pretendemos servir. Em termos práticos, os pilares de nossa estratégia foram construídos com a contribuição de centenas de pessoas indígenas, negras, amarelas e brancas. Também tivemos a oportunidade de nos reunirmos semanalmente com quatro lideranças indígenas e negras, que atuaram como nossas conselheiras de equidade racial. Recentemente, convidamos esse grupo de lideranças para nos aconselhar em toda a nossa estratégia no Brasil, não apenas em relação à equidade racial.

Ainda assim, entendemos que esses encontros são apenas o começo de uma mudança e são insuficientes, já que romper com padrões históricos de exclusão é uma prática diária que exige atenção nos detalhes, grandes e pequenos, em todas as nossas ações

Photo credit: Valentina Fraiz

Por isso, através deste processo, construímos um mapa sistêmico que nos permite compreender melhor as formas persistentes de desigualdade racial na educação brasileira. Foi a partir dele que construímos nosso plano para 2023, voltado para apoiar iniciativas que:

  1. lutem por ações afirmativas dentro da educação,
  2. ajudem a construir um sistema educacional que aumente a aprendizagem através do fortalecimento da identidade e da auto-estima dos estudantes indígenas e negros,
  3. propiciem espaços de diálogos e comunidades de prática onde possamos continuar a nossa jornada em torno de justiça social, equidade, diversidade e inclusão (JEDI), junto dos nossos parceiros e pares da filantropia.

Também entendemos que as organizações lideradas por pessoas negras são sub financiadas em comparação com outras lideradas por pessoas brancas. Esse aprendizado fez com que mudássemos a prioridade de investimentos e passássemos a apoiar instituições como o CEERT, Instituto Geledés, Instituto Peregum e o FNEEI (Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena). Recentemente, financiamos o edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que, em parceria com o Fundo Baobá e Fundação Lemann, incentiva organizações, grupos e coletivos negros que atuam no combate ao racismo e na promoção da equidade racial na Educação.

Ainda assim, frente ao grande cenário de disparidade racial que configura a sociedade brasileira, estamos em busca de parcerias que nos ajudem a estabelecer um portfólio de investimentos em que ao menos 50% de nossos aportes sejam destinados para organizações lideradas por pessoas indígenas e negras. Acreditamos que não é possível nenhuma transformação no Brasil com somente uma parcela da população representada. Nossas metas só serão alcançadas com a participação constante e ativa desses grupos, e não com consultas pontuais.

Desejávamos ter notado mais cedo os padrões de desigualdade e racismo que são tão flagrantes no Brasil e pedimos desculpas às pessoas indígenas e negras por termos demorado nesse processo. Embora estejamos aprendendo com nossos avanços nos últimos dois anos, sabemos que há novas etapas que precisamos desenvolver e estamos comprometidos com um trabalho contínuo necessário para sermos parceiros eficazes e solidários dessa mudança.

Nosso trabalho no Brasil passou por uma mudança substancial nos últimos dois anos, principalmente porque, como argumenta Bispo, tivemos a felicidade de dialogar com lideranças indígenas e negras que lutam pela promoção da equidade racial no sistema educacional.

Perspectivas Para o Futuro

Ainda que tenhamos um longo caminho a percorrer, estamos certos de que é preciso praticar a filantropia para promover a equidade racial, tanto na forma quanto no conteúdo. Por isso encorajamos outras fundações a reconhecer os erros do passado, a construir estratégias emergentes com a ajuda das pessoas que queremos servir, a atuar em problemas complexos com uma abordagem sistêmica e a ceder espaços de poder para pessoas indígenas e negras, como uma forma de transformação e inspiração. Acreditamos profundamente que a forma como atuamos define os resultados que iremos alcançar. Este também é um convite para que nossos pares da filantropia aprofundem ainda mais as suas práticas de equidade racial, compartilhando conosco os seus aprendizados.

Parafraseando Giovani Rocha, um de nossos conselheiros de equidade racial: a filantropia pode até considerar que está assumindo riscos quando investe em equidade racial, mas talvez isso seja um engano. Caso a filantropia falhe, não é possível imaginar dano maior que os já causados pela sociedade atual nas pessoas indígenas e negras. Precisamos agir agora, com urgência e sem medo.

Parafraseando Giovani Rocha, um de nossos conselheiros de equidade racial: a filantropia pode até considerar que está assumindo riscos quando investe em equidade racial, mas talvez isso seja um engano. Caso a filantropia falhe, não é possível imaginar dan